Curador da Bienal fala sobre a exposição
Curta Artes: Bienal (Parte 1)
Curta Artes: Bienal (Parte 2)
Curta Artes: Bienal (Parte 2)
Arte contemporânea, quando vale tudo.
A EXPRESSÃO SEM LIMITES
Vacas
conservadas em formol leiloadas a preços exorbitantes. Grafites que ultrapassam
o vandalismo para se transformar em denúncia. Videoarte e tecnologias aplicadas
à estética. Novos formatos de sobrevivência duvidosa, que convivem em
arquiteturas impossíveis. E, diante disso, um espectador incrédulo que levanta
as sobrancelhas quando alguém lhe assegura que nada na arte pode ser rejeitado.
A
arte contemporânea parece divorciada do grande público, mas essa separação não
é algo novo. Os grandes artistas foram incompreendidos enquanto viviam. O tempo
os valorizou, quando a história possibilitou determinar o papel que tinham
desempenhado na hora de representar as inquietudes de sua época. O problema é
que as obras de alguns artistas atuais alcançam preços que superam os
clássicos, fato que provoca irritação em muitos setores que voltam a se
perguntar se as novas propostas não estão se distanciando da estética para se
posicionar a favor do mercado.
DA PROVOCAÇÃO AO
ATIVISMO
As
manifestações artísticas atuais são múltiplas e mutáveis. Embora ainda seja
cedo demais para determinar uma série de traços que credenciem um determinado
referente da época atual, como ocorreu com o Renascimento ou com as vanguardas,
podem ser estabelecidos alguns pontos comuns, dominados pela ânsia generalizada
de deixar para trás as velhas questões. Os debates sobre o que é arte e para
onde se dirige são considerados estéreis e pertencem ao século XX. Hoje, a
criação artística expande-se em todas as direções e o tempo será o encarregado
de enterrar algumas propostas e enaltecer outras.
Desde
a década de 1960, época em que irrompem o novo realismo e a arte conceitual, as
expressões artísticas que dominaram o cenário internacional têm um claro
componente reivindicatório. Já não importa tanto a qualidade da obra, mas o que
ela expressa em si. Essa ideia da mensagem está em quase todos os artistas
atuais, que já não buscam apenas a beleza estética, e sim a transmissão de um
discurso. A arte atual dá carta branca ao artista para que faça uso, com maior
ou menor acerto, de qualquer fórmula para expressar sua opinião. O espectador,
por sua vez, tem de refletir sobre a obra artística, desfrutá-la, descobrir
aquilo que se quer transmitir ou, simplesmente, pensar sobre o novo discurso.
Essa
arte, amparada por uma liberdade sem precedentes na história, converte-se assim
em uma opinião livre e manifesta. Da provocação que se buscava nas duas últimas
décadas do século XX, passamos a uma arte dominada pelo ativismo, que pretende
oferecer uma visão reflexiva do mundo e que se afasta da realidade que tentam
mostrar os políticos. Uma espécie de corrente artística antissistema, baseada
no bombardeio de mensagens subversivas que ironizam a realidade, que questionam
decisões políticas e que se atrevem a mostrar sem disfarces o que os meios de
comunicação, apoiados na objetividade impossível e influenciados pelas redes
que os sustentam, não são capazes de publicar.
O VANDALISMO
TRANSFORMADO EM ARTE
Sob
o pseudônimo de Banksy esconde-se um dos artistas mais controversos da
atualidade. Ele utiliza uma linguagem pictórica, o grafite, que durante anos
permaneceu isolada do mercado da arte devido a seu caráter marginal e,
sobretudo, pouco afeito a galerias e museus. Sobre Banksy sabe-se pouco.
Praticamente se conhece apenas sua procedência (Bristol, Reino Unido) e suas
obras, que pinta ilegalmente sobre os muros de edifícios públicos e privados.
Suas pinturas murais representam uma crítica feroz à ordem estabelecida, aos
abusos do mundo moderno, à guerra: agentes de polícia que se beijam, crianças
com uma bomba como urso de pelúcia, tigres que escapam das grades que formam as
listras de sua pele convertidas em um código de barras...
O
espírito crítico o levou a registrar sua opinião em lugares muito simbólicos,
como o muro ilegal que Israel construiu na Cisjordânia para isolar os
territórios de Gaza. Outras vezes, pintou nas fachadas de vários edifícios
públicos e privados de Londres e Bristol, o que fez com que alguns o
considerassem um vândalo. Os serviços de limpeza de Londres receberam ordens de
eliminar, em várias ocasiões, suas obras, o que contribuiu para aumentar seu
sucesso. Seus partidários justificam o fato, dizendo que os políticos não
querem que a arte exponha friamente na rua o que eles não gostam de ouvir. As
autoridades de Londres, porém, asseguram que a arte não pode estar contra a
propriedade privada nem utilizar a seu bel-prazer o espaço público, porque isso
se transforma em vandalismo. Em outros lugares, como Bristol, os prefeitos
viram a atratividade turística que os trabalhos de Banksy podem trazer para as
cidades e, por isso, decidiram dar um indulto a algumas de suas obras.
O
discurso ativista de Banksy também chegou aos museus, com uma série de
intervenções não autorizadas, pendurando suas telas entre as de outros artistas
já reconhecidos. Na maioria das ocasiões, essas obras parodiavam pinturas
clássicas e demoraram vários dias para serem descobertas pelos responsáveis dos
museus. A Tate Gallery de Londres, o Museum of Modern Art (MOMA) de Nova
Iorque, o Museu do Brooklyn e o British Museum foram suas vítimas favoritas.
QUANDO A ARTE É NEGÓCIO
Banksy
provoca dor de cabeça nas autoridades, sobretudo nas londrinas, e aplausos por
parte do público e dos marchands de arte que se deixaram seduzir por sua arte
contrária ao institucional. Entretanto, ele mesmo vende suas obras, cada vez
mais cotadas, por meio de Steve Lazarides, seu agente no bairro do Soho de
Londres; por isso muitos duvidam da veracidade do seu compromisso antissistema.
Além disso, Banksy fez desenhos para campanhas comerciais da emissora MTV e do
Greenpeace, o que redobrou as críticas em relação à sua ideologia que, na maior
parte de suas obras, se mostra contra o consumismo e o capitalismo. Seus
compradores o defendem com ironia: de algum modo terá de pagar o advogado e as
multas que virão quando for descoberto. Peguem-no ou não, vender suas pinturas
a preços exorbitantes não limita o conteúdo de denúncia de sua obra.
O
caso de Banksy deixa claro que a arte contemporânea se transformou em uma
indústria multimilionária que atua em uma rede na qual a publicidade e o
marketing desempenham um papel de destaque. A arte é cotada, valorizada, e, no
caso das obras de artistas consagrados, nunca se desvaloriza. Essa segurança
faz dela um atraente campo de investimento, principalmente quando outros
setores econômicos, como o imobiliário ou o de ações, decaem. Colecionar arte
proporciona também certo prestígio social, pois, ao mesmo tempo que transmite
uma imagem positiva do comprador como mecenas e defensor da cultura, revela
grande independência econômica.
O
negócio da arte atraiu as grandes empresas; o setor da publicidade; os altos
nomes da moda, que são hoje grandes colecionadores e proprietários de museus
(Gucci, Purificación García...); e as entidades financeiras e os políticos, que
viram nos museus de arte contemporânea uma forma de atrair um novo turismo.
Inclusive o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)
organizou seu primeiro leilão de obras de arte cedidas por artistas plásticos
atuais para financiar suas atuações humanitárias. Na Espanha, por exemplo, após
a bem-sucedida inauguração do Museu Guggenheim em Bilbao, em 1997, várias
regiões quiseram contar com uma coleção de arte moderna própria. Em apenas uma
década, foi inaugurada uma dúzia de centros de arte contemporânea por todo o
país. O Artium em Vitória (País Basco) ou o Musac (Museu de Arte Contemporânea
de Castela e Leão) em Leão são mostras de uma tendência que não cresce somente
na Espanha, mas também em outros países europeus e latino-americanos. A ideia
mais original foi, no entanto, o MURAC (Museo Riojano de Arte Contemporáneo),
um inovador centro sem sede física que pendura suas obras, perfeitamente
identificadas com uma etiqueta, por toda Logronho para transformar a cidade em
um museu vivo e mutante no qual se mesclam a arte pública e a privada.
No
Brasil, o fenômeno se repete com resultados desiguais, mas, via de regra,
positivos. Muitas empresas passam a patrocinar museus ou criam suas próprias
fundações, encarregadas de formar seus acervos e geri-los no contato com o
público. Vale notar, e prestigiar, entre outras, as ações do Grupo Itaú
Unibanco, que mantém o Itaú Cultural e o Instituto Moreira Salles, ambas
instituições sediadas em São Paulo. Na esfera pública, grandes bancos federais
e estaduais mantêm institutos culturais, casos do Centro Cultural Banco do
Brasil (Banco do Brasil) e da Caixa Cultural (Caixa Federal), para ficar nos
mais representativos em plano federal.
A VACA NO FORMOL
O
mercado de arte tampouco permaneceu alheio às modas. Em certas ocasiões, a
polêmica e o marketing conseguem aumentar o cachê de alguns artistas que se
transformam no centro das atenções e conseguem alcançar cifras milionárias. O
colecionador e publicitário britânico Charles Saatchi é um especialista em dar
destaque a artistas polêmicos como Tracey Emin, que foi finalista do Prêmio
Turner após apresentar-se com a instalação My Bed, na qual se via sua cama
cercada de roupa íntima usada, lençóis sujos e outras mostras de frenética
atividade sexual. Apesar de as obras de Emin terem sido muito discutidas do
ponto de vista técnico, uma vez que a artista não domina nenhuma das belas
artes, sua especial sensibilidade para captar em suas instalações o sentimento
de protesto e denúncia do século XXI a levou a fazer parte da Royal Academy of
Arts de Londres.
Outra
descoberta de Saatchi é o britânico Damien Hirst, que depois de pular todos os
procedimentos habituais, começou em 2008 a vender suas obras por meio da casa
de leilões Sotheby’s para garantir as comissões de até 70% que recebem as
galerias e os marchands de arte. Hirst, um artista conceitual nascido em 1965,
conquistou a fama no princípio dos anos 1990 depois que Saatchi o incluiu em
uma exposição coletiva intitulada Young British Artists (em tradução livre,
Artistas Britânicos Jovens), da qual saiu a geração dos chamados YBA. Conhecido
por suas obras, nas quais conserva animais como vacas, tubarões e bezerros em
formol, Hirst se tornou o produto de uma campanha publicitária perfeitamente
estruturada que o transformou no artista plástico vivo mais caro da história. Em
uma de suas muitas operações de marketing, expôs na galeria White Cube de
Londres um crânio de platina com diamantes incrustados, cujo valor material era
de 20 milhões de euros. Tentava alcançar um recorde e conseguiu. Em 2008, os
jornais de todo o mundo ecoaram a venda da obra por 72 milhões de euros (cerca
de 100 milhões de dólares), o que fez de Hirst o artista mais bem pago do
planeta e uma das pessoas mais ricas do Reino Unido, segundo o The Sunday
Times.
A
pergunta que estava no ar levantava todo tipo de suspeitas: como o artista
havia conseguido dinheiro para financiar a criação de sua obra multimilionária?
A resposta revelou que tudo era um produto de marketing muito bem orquestrado
por um grupo que pretendia fazer negócios, atraindo o interesse da mídia. O The
Art Newspaper e o economista Don Thompson descobriram que na realidade a peça
havia sido comprada por um grupo de empresários amigos de Hirst em cumplicidade
com seu contador e as duas galerias de Londres e Nova Iorque nas quais expõe
habitualmente. Com essa estratégia, pretendiam valorizar a obra de Hirst muito
acima do preço que os colecionadores autênticos estavam dispostos a pagar por
uma peça cuja qualidade artística era duvidosa.
O
fato é que depois da descoberta da farsa, a cotação das obras de Hirst não caiu
– pelo contrário: subiu com os leilões da Sotheby’s. Ele vendeu obras por um
valor de 140 milhões de euros, o que desbancou o recorde estabelecido em 1993
em um leilão de quadros do pintor Pablo Ruiz Picasso, que chegou a 14 milhões
de euros (embora para consegui-lo Hirst tenha precisado arrematar 223 obras
frente às 88 do pintor malaguenho). Entre as peças conceituais vendidas por
Hirst estava O Bezerro Dourado, uma instalação que mostrava uma vaca morta com
chifres e cascos de ouro conservada em um grande tanque de formol. Seus
opositores, que asseguram que essas ambições comerciais distanciam a arte de
qualquer visão estética, ironizaram, afirmando que a vaca sem dúvida ocuparia
um lugar de destaque na sala dos amigos de Hirst.
Como a arte
contemporânea deixou de ser contemporânea.
Defendo que aquilo que
genericamente é apresentado como “arte contemporânea” já não representa o tempo
contemporâneo, é uma arte do passado.
A
maioria dos historiadores considera “arte contemporânea” a que é realizada a
partir do pós-II Guerra até hoje ou, para alguns, a que emerge na década de 60
até ao tempo presente. São definições meramente temporais que explicam pouco
sobre os conteúdos e o contexto cultural. Esta dificuldade não deve, contudo,
surpreender. A explosão criativa, operada nas décadas de 60 e 70, declarou o
fim das disciplinas artísticas e operou uma sistemática ampliação do campo da
arte que da pintura e escultura passa a incluir praticamente tudo,
canibalizando outras formas de expressão, como o teatro na performance, a
fotografia e o cinema na apropriação das imagens, a vida social numa arte de
protesto, o próprio corpo do artista, e até os seus dejetos com Manzoni e a sua
famosa lata com “merda de artista”, ou a ideia na arte conceptual, cujo
radicalismo levou à exposição do ar condicionado do grupo Art & Language,
onde simplesmente se ligou o ar condicionado de uma galeria de arte vazia. Isto
só para dar alguns exemplos.
Esta
explosão eliminou a possibilidade de se recorrer às distinções estilísticas
habituais. Como definir uma arte que resulta de um tudo é possível? Onde não
existem parâmetros preestabelecidos, nem um campo delimitado de ação? Daí que
alguns autores falem sobretudo do próprio processo de desconstrução do conceito
de arte. Ou seja, uma “arte contemporânea” que extravasa as velhas noções de
pintura, escultura ou desenho para se envolver com ideias, atitudes,
provocações. Essa arte, das décadas de 60 e 70, é assumidamente subversiva,
iconoclasta, política de muitas maneiras. Insere-se numa época contestatária,
de que o maio de 68 é para nós europeus a grande referência e nos Estados
Unidos pode associar-se às lutas pelos direitos cívicos, raciais ou ao feminismo.
Todavia
a partir dos anos 80, com o regresso do conservadorismo político e social,
reproduzido no plano cultural no pós-modernismo e na ideia de fim de história,
negação da evolução, irrelevância do sentido e descrença no próprio destino da
humanidade, a arte perde capacidade crítica e lentamente deixa de ser uma
prática de artistas e torna-se num complexo sistema de mercado.
O
mercado passa a regular a qualidade e relevância das obras da arte através de
uma série de agentes, funcionários públicos, galeristas, diretores de centros
de arte e museus. Os colecionadores tornam-se na voz dominante enquanto os
artistas se remetem a um papel secundário caindo num extremo individualismo. Os
críticos de arte desaparecem para dar lugar a promotores e relações públicas
dos interesses dos colecionadores. O debate sobre arte resume-se agora a
cotações.
Este
processo é aliás similar ao que sucedeu na música, no cinema ou na moda e em
geral na chamada cultura popular ou de massas.
A
apropriação pelo mercado da “arte contemporânea” tem resultado numa evidente
manipulação do gosto que sobrevaloriza o fácil, o kitsch, enfim, o anódino.
Numa lógica de repetição, consolidação de obras e artistas determinada
exclusivamente pelo valor mercantil, profusão de derivados apresentados, tanta
vez, como novidades. Aliás, a técnica do derivado, ou seja, a manipulação,
esperta ou gratuita, do já feito noutra época com outra relevância, tornou-se
na grande fonte de “inspiração” de muitos artistas. Veja-se como o método
duchampiano do ready-made, em que o artista altera o contexto de um objeto
pré-fabricado, se tornou num modelo dominante da produção artística da “arte
contemporânea”.
Compreende-se.
O mercado não quer verdadeira inovação, mas aquilo que possa valorizar as obras
em carteira. Um colecionador que tenha adquirido um conjunto de obras quer
sobretudo garantir e se possível aumentar o seu preço. Daí que os museus e
centros de arte, transformados em verdadeiras agências de promoção dos
investidores, façam circular as mesmas exposições e as mesmas obras. Um estudo
recente nos Estados Unidos mostra como os grandes museus preenchem o grosso da
sua programação, nalguns casos até 75%, com artistas das cinco maiores galerias
americanas.
Esta
realidade, conhecida de todos, tem gerado um efeito perverso. É cada vez mais
diminuta a renovação geracional. Enquanto as décadas de 60 e 70 produziram
dezenas de novos artistas altamente criativos e disruptivos, como agora se diz,
atualmente são muito poucos os que conseguem furar o bloqueio imposto pelo
mercado. Praticamente não existem novos artistas e aqueles que se apelidam de
novos ou emergentes são, na sua maioria, meros copistas dos consagrados. Por
isso a “arte contemporânea” é hoje um verdadeiro mercado de memorabilia que
promove o já visto e o já feito, só integrando pontualmente aquilo que o pode
legitimar.
A
arte contemporânea que foi determinante nos anos 60 e 70, época em que as obras
mais relevantes foram realizadas, entrou em decadência a partir dos anos 80,
transformando-se numa mera commodity sem capacidade crítica nem, diga-se,
criativa. A arte banalizou-se, adaptou-se ao gosto do novo-riquismo, esqueceu a
sua própria origem e história, alinhou com os interesses de curto e médio prazo
de quem investe em quantidade mais do que em qualidade.
Neste
processo, fechada numa lógica interna autorreferencial, de autopromoção e
reprodução de derivados a “arte contemporânea” foi também perdendo contacto com
o mundo real e com a evolução própria da sociedade do seu tempo.
Particularmente notável quando assistimos nas últimas décadas a uma ímpar
revolução científica e tecnológica que afetou não só os modos de vida como a
maneira como se concebem hoje os mais variados projetos criativos. As chamadas
novas tecnologias, que a maioria dos utilizadores imagina erradamente serem
meras ferramentas, têm vindo a acumular uma inteligência e criatividade
próprias, tornando-se verdadeiros parceiros dos humanos e não já simples
máquinas por eles comandadas. Isto por si só bastaria para despertar a curiosidade
dos artistas.
E
na realidade despertou nalguns. A partir da década de 70 começam a surgir
obras, baseadas no computador, em algoritmos e em geral no novo reino do
digital. São obras pioneiras que abrem um inteiro novo campo de realização da
arte, a que precisamente tenho chamado “um novo tipo de arte” e que não
circulam, nem integram o meio da “arte contemporânea”.
A
ciência recente e as novas tecnologias delas nascidas mudaram radicalmente a
forma como vemos o mundo e os seus mecanismos. Da biologia ao digital, da
física às teorias da complexidade, da revolução biotecnológica à robótica, do
ADN à consciência, o campo do saber não tem parado de se aprofundar e expandir.
A sua influência tem-se manifestado em praticamente todas as áreas do
conhecimento, incluindo nas humanidades, e inevitavelmente também na arte. A
arte de hoje, a arte realmente contemporânea realiza-se numa intensa interação
com a ciência e as novas tecnologias. Não implica que os artistas se devam
transformar em cientistas. A arte é uma forma não-objetiva, estocástica, de
conhecimento e como tal deve manter-se. Mas isso não significa que o princípio
do não-saber, da ignorância e da superficialidade devam prevalecer tal como
sucede na maioria da produção da chamada “arte contemporânea”. Não é
necessariamente “boa arte” aquela que não se entende. Ou aquela que não tem
qualquer fundamento ou propósito. O experimentalismo é um bom princípio do modo
de produção artística. Mas nem todo o experimentalismo, por si só, gera algo de
relevante.
A
arte realmente emergente e contemporânea tem uma base científica e por isso se
fala tanto de arte e ciência, enquanto reencontro das “duas culturas” na linha
do texto seminal de C. P. Snow. É uma arte que se apropria do conhecimento
científico para gerar novas formas de criatividade e produção de obras
autónomas da ciência que esteve na sua origem.
Ao
contrário da “arte contemporânea”, que assenta nos efeitos de mercado, no sem
sentido e, em grande medida, num negativismo regressivo, a nova arte é essencialmente
construtivista, positiva e visionária. É animada pelo desejo de construir um
mundo novo por muito que isso possa parecer estranho a algumas pessoas.
Em
conclusão. Defendo que aquilo que genericamente é apresentado como “arte
contemporânea” já não representa o tempo contemporâneo, é uma arte do passado,
salvo raras e muito pontuais exceções que só confirmam a máxima de que um
relógio parado está certo duas vezes ao dia.
Defendo igualmente
que a nova arte deve criar os seus próprios meios de divulgação e circulação
evitando integrar o circuito da “arte contemporânea” pelo que isso tem e teria
de ilusório e contraditório. A relação com a ciência parece-me, por exemplo,
bem mais interessante. A nova arte do século XXI tem os pés assentes no
presente, mas está apontada para o futuro. Como, aliás, sempre sucedeu com toda
a arte que fez a diferença.
Arte nos Dias de Hoje
Óculos é esquecido em chão de museu e visitantes
pensam que é obra de arte.
Óculos esquecido no chão é confundido com arte em
museu.
Arte Conceitual
O que é
(definição)
Arte
Conceitual é um movimento artístico que teve seu auge na Europa e nos Estados
Unidos durante a década de 1970. Foi uma espécie de reação ao formalismo da
arte, principalmente europeia, da década de 1960.
As
ideias artísticas da arte conceitual se espalharam pelo mundo, chegando também
ao Brasil.
Principais
características da arte conceitual
-
Valorização do conceito e da ideia da obra de arte, que se tornam mais
importantes do que o objeto e sua representação física.
-
Uso de diversos meios como, por exemplo, performances, instalações artísticas,
vídeos, textos e fotografias.
-
Forte desenvolvimento da arte ambiental, arte postal e grafite (principalmente
em áreas públicas).
-
Ideal de volta do figurativismo (arte figurativa), valorizando a forma humana,
elementos da natureza e objetos criados pelo homem.
-
Rompimento com o formalismo artístico.
Principais artistas
conceituais internacionais
- Maurizio Bolognini – artista conceitual
italiano.
- Barbara Kruger – artista conceitual
norte-americana.
- Joseph Kosuth – artista conceitual
norte-americano.
- Richard Estes – pintor
norte-americano, conhecido por suas pinturas hiper-realistas.
- Chuck Close – artista plástico
norte-americano, pintor e fotógrafo fotorrealista.
- Malcolm Morley – artista
fotorrealista inglês.
- Jasper Johns – pintor, escultor e
artista gráfico norte-americano.
- Robert Rauschenberg – pintor e artista
plástico norte-americano.
Arte conceitual no
Brasil e artistas
Vários elementos da
arte conceitual chegaram ao Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Neste contexto,
podemos observar estes elementos, principalmente, nas instalações artísticas e
obras de arte de Lygia Clarck, Cildo Meireles, Iole de Freias, Amilcar de
Castro e Hélio Oiticica.
Muitos
artistas têm perguntado ao Arte Prática o que é a Arte Conceitual. Nessa
matéria tentamos de uma maneira simples, mas rigorosa introduzir o assunto aos
nossos leitores.
A
Arte Conceitual é, no Brasil, um campo de expressão artística muito pouco
compreendido. Por culpa de muitos artistas, jornalistas e críticos de arte que
tem tratado a idéia de arte conceitual como se esta fosse a única forma de Arte
contemporânea, vários grupos de artistas ligados a outros tipos de expressão
têm sentido que a Arte Conceitual é uma área fechada, somente acessível a
poucos eleitos. A realidade não se mostra assim. A arte conceitual nada mais é do
que uma das inúmeras formas de expressão artísticas possíveis para o
desenvolvimento de um trabalho pelo artista plástico.
As
discussões que levaram ao surgimento da Arte Conceitual são muito antigas.
Começam no trabalho de Marcel Duchamp e continuaram através da primeira metade
do século XX. Na década de 60 através das idéias veiculadas pelo grupo Fluxus a
Arte Conceitual torna-se um fenômeno mundial. No Brasil artistas como Artur
Barrio, Baravelli, Carlos Fajardo, Cildo Meirelles, José Rezende, Mira
Schendel, Tunga e Waltércio Caldas começam a desenvolver um trabalho nessa
forma de expressão.
Para
esclarecer um pouco mais a situação precisamos antes entender o que o termo
Arte Conceitual significa. Segundo Atkins, o termo Arte Conceitual se
popularizou em 1967 depois que a revista americana ArtForum publicou o texto do
artista minimalista Sol LeWitt intitulado “Parágrafos sobre a Arte Conceitual”.
Nesse artigo o artista organiza as reflexões já existentes na área sobre uma
arte que se desenvolve somente no campo das idéias, abandonando um pouco a
materialidade da obra de arte.
Nessa
forma de expressão artística as idéias, reflexões e pensamentos do artista
seriam mais importantes do que o objeto de arte em si. Como exemplo podemos
dizer que na Arte Conceitual uma tela completamente coberta de tinta vermelha
pode não ser mais entendida como uma pintura de cor única, mas sim como um
suporte das reflexões do artista: para ele talvez pintar a tela vermelha seja
uma forma de refletir sobre a angústia e a violência no mundo.
É interessante notar que na Arte Conceitual o público é obrigado a deixar de ser apenas um observador passivo pois o entendimento da obra de arte não é mais direto. O público também é obrigado a refletir e sair da confortável situação de saber, por antecipação, avaliar se uma obra de arte é “ruim” ou “boa”. Não é mais Possível ir a uma exposição e dizer “essa paisagem está bem composta, a pintura é de qualidade”. Questões clássicas das artes plásticas como a composição, estudo de cor e a uso da luz podem não ter sentido nenhum na arte conceitual. Bem, se o público é chamado a ter o trabalho de pensar sobre a obra de arte para aceita-la e entende-la, o trabalho do artista também não é menos difícil.
Pensar
e refletir sobre a realidade de maneira sofisticada exige do artista uma
referência que muitas vezes ele não tem. Da mesma maneira como um pintor
figurativo necessita estudar profundamente a sua técnica e forma de expressão
para que possa fazer, por exemplo, um retrato de qualidade o artista conceitual
necessita ter um profundo conhecimento de filosofia, história, cultura e
informação sobre o mundo atual e artistas contemporâneos para que possa criar
“reflexões” visuais consistentes. Esse esforço é fundamental para o artista
interessado na arte conceitual: não podemos esquecer que é muito comum
encontrarmos artistas que se dizem conceituais, mas que são incapazes de
discorrer poucas linhas sobre as reflexões contidas em seu trabalho. Essa
situação só leva ao descrédito de sua produção e a de toda uma área artística.
É devido a essa necessidade de estudo que a maioria dos artistas conceituais
vem de uma formação universitária. Muitas vezes, compelidos pela necessidade de
estudo, esses artistas acabam produzindo pesquisas de mestrado e doutorado em
artes.
Atualmente
os artistas conceituais produzem através de várias formas de expressão
artísticas: vídeo arte, fotografia, instalação, performance, internet art e
Land Art. Cada uma dessas formas de expressão leva o artista a novos desafios e
muitas vezes a uma volta para as formas de expressão tradicionais das artes,
como a pintura, a gravura e a escultura. Esse movimento de Inter-relação entre
tradições artísticas tradicionais e contemporâneas tem muitas vezes sido
chamado de Neo-Conceitualismo.
Vídeo aula:
Tema: Arte Conceitual
Tema: O que é Arte Conceitual?
História
da Arte 18 - Arte Conceitual - Profº Fulvio Pacheco
O que é ser artista? O que é a arte dos dias de hoje?
O
ser humano no surgiu neste mundo com a missão de expressar a vida de Deus
alojada nele. Na arte da pintura, a artista inicia com as técnicas básicas e
gradativamente vai se aprimorando, conhecendo técnicas mais avançadas. Assim
vai mudando de meias de expressão, tais como: esboço, aquarela, pintura a óleo,
entre outros. De modo análogo, todos nós, na existência terrena, passamos
inicialmente pela fase elementar em que oferece uma forte resistência material
e passa a agir para se expressar.
A Arte
Contemporânea no Dia de Hoje
A
arte contemporânea é a que se faz hoje. Contemporâneo, é o que pertence ao
nosso tempo. Isto não significa que muitos artistas que estão produzindo
atualmente o façam com a linguagem do “hoje”. O legado que a Arte Moderna nos
deixou é rico o suficiente para ainda influenciar artistas em todo o mundo.
A
arte de linguagem contemporânea, como diz o crítico Alberto Beuttenmuller, é
aquela que traz as influências características desta época: são as
performances, as ocupações de espaço, as instalações, as interferências, a arte
virtual. Quase todas efêmeras e circunstanciais.
A
pintura, a escultura, gravura e outras técnicas muito usadas na manifestação
artística do homem enfrentam hoje o desafio de atualizar-se, de inserir-se
nestes tempos de individualizações e de imagens, instantâneas. Superar a
riqueza do Período Moderno ou introduzir um novo discurso: eis o desafio de
fazer arte na contemporaneidade.
Na
História, a Idade Contemporânea compreende o período de tempo que vai da
Revolução Francesa (1789) até hoje. O período entre o fim da Idade Média (por
volta de 1500) e a Revolução Francesa é chamado de Idade Moderna. Por este
conceito, Caravaggio (1571 – 1610) seria moderno, e Claude Monet (1840 – 1926)
e Joan Miró (1893 – 1983) seriam contemporâneos.Nas artes, deu-se o nome de
Modernismo aos movimentos surgidos no início do século XX, como o Cubismo,
Surrealismo etc. Seguiram-se outros movimentos (Op Art, Por Art) e que é
produzido atualmente é carimbado como “arte contemporânea”. Por este conceito,
Miró seria moderno, mas nenhum dos três artistas seria contemporâneo.
Contemporâneo significa, nos dicionários, “o que é de hoje, dos dias atuais”.
Neste conceito, nenhum dos três pintores faz arte contemporânea; entretanto,
todos os três já fizeram, em seu tempo! Quando Caravaggio pintava, em 1600,
estava fazendo “arte contemporânea”, isto é, a arte do seu tempo. Como a arte de hoje, a mais inovadora, ainda
não recebeu um nome oficial, “arte contemporânea” passa a ser o nome provisório
para o “movimento”. Se um pintor de hoje fizer um quadro que no tema, no estilo
etc. arremeta a Caravaggio, não estará fazendo arte contemporânea. Mas se fizer
um vídeo aparentemente desconexo, estará. Alguém que pintasse, hoje, ao estilo
de Miró, ainda estaria fazendo arte contemporânea, pois seu quase
Abstracionismo ainda não foi superado.
Quando
se fala de “arte contemporânea” é comumente deste quarto sentido que se está a
dizer. A arte contemporânea gera muito preconceito. É quase sinônimo de
rejeição e escárnio.
Quero
analisar a arte contemporânea, pensar sobre ela, entendê-la. Mas não parto de
um ponto neutro: parto destes pré-conceitos, que compartilho. Meu ponto de
partida é: “a arte contemporânea é lixo, feita por um bando de narcisistas que
ou não conhecem a História da Arte ou se aproveitam dos que não a conhecem para
aparecer”. Este é meu pensamento inicial.
Para
mim, a Arte (estou utilizando “Arte” como sinônimo de “Pintura”) morreu com
Picasso e Duchamp. Mais especificamente, com uma obra de cada um. “Les
demoiselles d’Avignon” (1907), pintura de Pablo Picasso, inaugurou o Cubismo e
matou a figuração. “A fonte” (1917), o urinol de Marcel Duchamp, disse: “Arte é
o que eu quiser chamar de ‘Arte’”.
Agora,
visitamos uma exposição e encontramos, digamos, uma cadeira derrubada. Ao seu
lado, uma plaquinha com um título como “O amor”. No lugar da cadeira,
poderíamos ter um chave-de-fenda, um travesseiro, um gato empalhado. O título
poderia varia, também: “O amor nos tempos da internet”, “Picasso me enviou uma
carta” ou “Abre aspas, fecha aspas”. Qualquer bobagem assim. Desconexa, com
cara de significados “profundos” (um travesseiro intitulado “Abre aspas, fecha
aspas”… O autor quis nos falares dos sonhos?), mas ridiculamente vazia (já que
escolhi o objeto e o título por sorteio, logo, não queria “dizer” nada,
“provocar” nada).
Obras
aparentemente inovadoras povoam as exposições e galerias, mas não cansam de
remeter a uma obra quase centenária.
Inovador
e chocante mesmo foi Gustave Courbet, com seu “A origem do mundo”, em 1866 –
uma vagina ocupa em vergonha nenhuma o centro da tela.
Admiramos
e idolatramos Coubert, Picasso e Duchamp. Desprezamos os artistas de hoje,
dizendo que “querem apenas aparecer”, “querem chocar por chocar, querem
manipular o público e a mídia, para enriquecerem”, “fazem isto porque não têm
talento para fazer belas pinturas” etc.
Mas,
se pudéssemos voltar no tempo… Se voltássemos a 1866, ou a 1907, ou a 1917… O
que acharíamos de Courbet, Picasso e Duchamp, respectivamente? Será que não
lhes acusaríamos das mesmas coisas (narcisismo, incompetência técnica etc.)? É
possível. Talvez seja provável.
A
conclusão dolorida é que não passamos de um bando de reacionários,
conservadores. Agora admiramos Courbet, mas, se vivêssemos em 1866, e
estivéssemos vendo a arte contemporânea daquela época, isto é, “A origem do
mundo”, reagiríamos como reagimos com a arte contemporânea de hoje. “Milhões?
Não pagaria nem dez centavos por isto! ” Não te envergonha ver-te assim como
uma mentalidade retrógrada de 1866? Pois és a mentalidade retrógrada de hoje e
não sabes.
Nossos
parâmetros de avaliação para a arte contemporânea, portanto, não podem ser
certos preconceitos que temos. É óbvio que a arte contemporânea está cheia de
falsários. Mas seria absurdo pensar que os milhares de artistas em atividade
atualmente sejam todos falsários. Alguém deve se salvar. Complicado será
separar uns e outros.
Por
mais que achemos a arte contemporânea um lixo, um pastiche completo, se formos
falar da História da Arte teremos que incluí-la. Qualquer História precisa
chegar até o hoje. Mesmo que seja para dizer que é um lixo por completo. Mas
alguém está fazendo este lixo. Aliás, milhares estão fazendo.
Contudo,
ao escrevermos uma História, uma grande preocupação deve ser não dar peso
demais ao atual, porque nem tudo o que hoje tem significado será lembrado daqui
a cem anos. Desta forma, o historiador tem de ter certa perspicácia, certa
autonomia, quando fala sobre os dias de hoje. Aqui ele tem de selecionar, sem
contar com o filtro do tempo.
Será
necessário, portanto, separar uns e outros, entre os contemporâneos. Dezenas
são “importantes”, se abrirmos os cadernos de cultura dos jornais. Mas os
apenas importantes não ficarão para a História da Arte. Ficarão apenas os muito
importantes.
Mesmo
que estejam a fazer lixo. Mesmo que estejam a repetir Duchamp. Em uma aula de
História da Arte, daqui a 50 anos, poderá até ser dito: “no início do século
XXI, nada de novo era produzido; continuava-se a repetir Duchamp; o mais famoso
destes continuadores da tradição foi…”. Mas algo tem de ser dito. Não pode
haver um buraco na História. É muito grande a tentação de encerrar a História
em Andy Warhol. Mas não pode ser assim.
Helissandro Sou Artista Plástico: Desenhista, Pintor e Designer. / Autodidata
Contato
do Artista Plástico.
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